Oi,
Essa Reforma Ortográfica está deixando varias pessoas de cabelo em pé.
Só de pensar que as pessoas que escrevem com clareza, caso não se adaptem as novas regras ortográficas, correm o risco de passarem a escrever errado, oque seria de mim, mero mortal que já tenho dificuldades com as antigas regras ortográficas sobre as quais fui ensinado.
Inúmeras dúvidas surgem na cabeça de milhares de cidadãos enquanto o Brasil se prepara para a reforma ortográfica da Língua Portuguesa. Se por um lado o trema – que já não era muito utilizado – dará seu adeus eterno ao mundo dos vivos, por outro, o hífen – considerado por muitos um vilão –, deixará de existir apenas em alguns casos.
Semana passada fui na UFRJ - Universidade Federal Rural do Rio de Janeiro e recebi o informativo interno deles intitulado "Rural Semanal", nesse informativo há essa crônica referente a mudança ortográfica e de uma forma cômica ensina algumas das mudanças que ocorreu na nossa língua.
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Vejam só: eu, a língua portuguesa, falada por pelo menos 230 milhões de pessoas, de oito países, que oficialmente me adotam, estou de roupa nova. Sempre foi assim: de tempos em tempos decidem autoregular o modo como sou escrita, ou melhor, autorregular. Agora é assim, sabia?
Bom exemplo é o pronome você. Nasceu ‘vossa mercê’, virou ‘vossemecê’, derivou para ‘vosmecê’, reduziu-se a ‘você’, é falado ‘ocê’ ou ‘cê’ (‘cê vai lá?’). Não duvido de nada, daqui a pouco só se pronuncia o acento circunflexo...
Oficialmente, meu alfabeto passa a ter 26 letras, com a inclusão de k, y e w. Ora, na prática isso já ocorria: km, yang e yin, show etc. Meio kafkiano, não?
Cai a coroa de certas palavras, o velho trema, tão frequente (agora sem trema) na tranquil (idem) sequência (idem) de vocábulos como linguiça. Qüinqüênio, duplamente coroado, agora é quinquênio. Também perco o acento no casal de vogais, conhecido por ditongo, em palavras paroxítonas, como alcateia, androide, boia, colmeia, celuloide.
Confesso que me sinto meio nua... Será paranoia? Ao menos me sobraram os acentos das oxítonas como papéis, heróis e troféu. E o Piauí ficou a salvo, como em toda oxítona terminada por i e u ou seguida de s.
Língua é também uma questão de elegância. Imaginem uma mulher descabelada numa festa em que todas as outras estão bem penteadas! É como me sinto nos vocábulos terminados em ee e oo. Adeus o chapeuzinho em creem, magoo, perdoo, veem (do verbo ver), voo, zoo. Será que abençoo tais mudanças?, pergunta o autor deste texto. Ou ele encara isso com certo enjoo?
Será que os leitores, sem o circunflexo (que belo vocábulo!), distinguirão facilmente o casamento da preposição com o artigo no vocábulo pelo do substantivo pêlo, que agora é pelo, assim pelado?Perdem o acento: pêra e pára. Num texto na nova ortografia, agora vamos ler o que a moça gritou no carro para o namorado: “Para! Desço na esquina, seu hálito, de quem comeu pera podre, me dá enjoo”. “Pode descer”, dirá ele. Ela retrucará: “Como você pôde sair de casa sem escovar os dentes?”
Outra exceção é a preposição por e o verbo pôr. Por que será? Mas ao menos uma liberdade resta a quem redige: você pode ou não enchapelar ‘forma’, quando se referir à vasilha de fazer bolos e escrever: “Qual a forma da fôrma do bolo?” Estará também certíssimo se redigir: “Qual a forma da forma do bolo?”
O hífen, coitado, foi o que mais sofreu nessa reforma ortográfica. Salvou-se frente ao h: superhomem, sobre-humano. Mas dançou quando o prefixo termina diferente do segundo elemento: aeroespacial, antiaéreo, extraescolar. Sobrou o vice: vice-presidente. Sai de cena o hífen se o prefixo termina em vogal e o resto se inicia com r ou s. Neste caso, duplicam-se tais letras: antissocial, ultrassom, biorritmo. Estranho, né?
Há certas palavras com as quais é preciso cuidado, devido à sua carga ideológica. O hífen permanece para o i não beijar o seu clone: anti-imperialista, anti-inflacionário. Também quando o r ameaça arranhar o seu duplo: inter-racial, superromântico. Superinteressante, não?
Se o prefixo sub topar com o r, que mantenha distância: sub-região, sub-raça. Pan-americano fica assim mesmo. Quando o prefixo terminar por consoante e o segundo elemento começar por vogal, una tudo: hiperativo, hiperacidez, interestadual. Porém, mantenha distância se os prefixos forem ex, sem, além, pós, pré: além-túmulo, exdiretor, pós-graduação, pré-vestibular, recémcasado. E sem-terra (mas com muita garra na
luta por reforma agrária).
E algo fantástico: o hífen é preservado se o sufixo tiver origem tupi-guarani (olha ele aí): capimaçu, amoré-guaçu. Supõe, evidentemente, que você saiba identificar o vocábulo como derivado do tupi-guarani.
Sei que não sou um idioma fácil. Além da correta ortografia, exijo perfeita sintaxe. E vivo provocando pegadinhas: aluvião, apesar do tom, é substantivo feminino. E imagina um estrangeiro me aprendendo: “Pedro bota e calça e, em seguida, calça a bota”. E manga? De camisa, a fruta, parte do eixo do carro e mais oito significados, pelo menos. Banco então nem se fala: de praça, de guardar dinheiro, de areia, de sangue, e do presente do indicativo do verbo bancar.
Para fazer bom uso de mim, só há uma receita: leia, leia muito, bons autores. E quanto à minha roupa nova, fique tranqüilo, pois este trema e todas as demais mudanças ortográficas têm (o circunflexo do plural dos verbos ter e vir foram salvos pelo gongo) prazo até 2012 para serem implementadas.
Fonte de Pesquisa: Extraido do Informativo da Universidade Federal Rural do Rio de Janeiro - Rural Semanal, Ano XVI, 2009/03
O que muda
I) Alfabeto
O alfabeto, que hoje tem 23 letras, passará a contar com 26, com a volta das letras k, w, y.
II) Acentuação
Acento agudo
Não serão mais acentuadas as paroxítonas que tenham os ditongos abertos ei e oi. Assim, a palavra assembléia não terá mais acento, será assembleia. Pertencem a essa lista, palavras como idéia, geléia, Coréia, bóia, jibóia, Tróia, heróico, que deverão ser grafadas como ideia, geleia, Coreia, boia, jiboia, Troia, heroico. Não receberão acento as palavras paroxítonas com i e u tônicos, quando formarem um hiato. Assim, baiúca e feiúra deixarão de ser acentuadas. As formas verbais que possuem acento tônico na raiz, com o u tônico precedido de g ou q e seguido de e ou i deixarão de receber acento. Dessa forma, argúis e redargúis, serão arguis e redarguis.
Acento circunflexo
As paroxítonas terminadas em oo e em eem não serão mais acentudas. Assim, as formas vôo, abençôo, perdôo, vêem, dêem, crêem, lêem passarão a ser grafadas como voo, abençoo, perdoo, veem, deem, creem, leem.
Acento diferencial
O acento diferencial, hoje, é utilizado para distingüir palavras homófonas (que possuem o mesmo som). Essas palavras podem ter acento agudo ou circunflexo. Com o acordo, o acento das palavras homófonas deixará de existir. Assim, as seguintes palavras deverão ser escritas da mesma forma:
- para (preposição) e pára (verbo, 3ª pessoa do presente do indicativo);
- pélo (do verbo pelar) e pêlo (substantivo);
- péla (do berbo pelar) e pela (preposição com artigo).
No entanto, o acento diferencial será mantido para a distinção de por (preposição) e pôr (verbo) e pôde (verbo conjugado no passado) e pode (verbo conjugado no presente).
III) Trema
O já conhecido e temido sinal gráfico de dois pontos usado em cima do u nos grupos que, qui, gue, gui será definitivamente suprimido. Dessa forma, palavras como agüentar, lingüiça, tranqüilo, freqüente, deverão ser todas grafadas sem o trema. Contudo, o acordo prevê que o trema seja mantido em nomes próprios de origem estrangeira, como Bündchen.
IV) Hífen
O hífen deixará de existir em dois casos:
- quando o prefixo terminar com vogal e o segundo elemento começar com r ou s, devendo-se estas consoantes duplicar-se. Dessa forma, palavras como anti-religioso e anti-semita deverão ser escritas como antirreligioso e antissemita.
- quando o prefixo terminar com vogal e o segundo elemento começar com vogal. Dessa maneira, palavras como auto-estrada e extra-escolar passarão a ser grafadas como autoestrada e extraescolar.
Porém, o hífen permanece se a palavra for iniciada por h, como em anti-horário e mini-hotel ou se o prefixo terminar pela mesma letra que inicia a palavra a que ele se liga, por exemplo, anti-inflacionário e tele-educação.
V) Palavras de dupla grafia
O acordo ortográfico prevê dupla grafia nas palavras proparoxítonas cuja vogal tônica admita mudança de timbre. Ou seja, o novo acordo leva em consideração a diferença de pronúncia em cada país. Assim, será aceita a dupla grafia de palavras como fenômeno e fenómeno, tênis e ténis, cantamos e cantámos, acadêmico e académico.